O levante paulista não obteve o efeito esperado, mas colocou freios no projeto autoritário de Vargas e dos militares que o apoiavam.

A chamada Revolução Constitucionalista de 1932 foi um confronto armado entre forças majoritariamente paulistas contra o governo de Getúlio Vargas, que havia ascendido por meio de um golpe militar, na Revolução de 1930, marco fundador do Brasil moderno. 

A Revolução Constitucionalista de 1932 – chamada pelos getulistas de contrarrevolução – nasceu de uma série de insatisfações. Ao tomar o poder, Vargas anulou a Constituição de 1891, fechou o Congresso Nacional, extinguiu os partidos políticos e começou a governar por meio de decreto-lei. Nos estados, Vargas depôs os antigos governadores eleitos e nomeou interventores, pessoas da sua confiança, para governar cada estado brasileiro, acumulando cada vems mais poderes.

A ascensão paulista se deu ainda no século XIX, precisamente em 18 de abril de 1873, quando um grupo de opositores do governo golpista de Vargas reuniu-se na cidade de Itu, a 100km da capital paulista, para discutir a implantação de uma república no Brasil. A reunião, que entrou para a história como a Convenção de Itu, levou à criação em junho daquele ano do Partido Republicano Paulista (PRP) - que seria a agremiação política mais importante durante a República Velha, e do jornal “A Província de São Paulo” que viria a ser “O Estado de São Paulo”, uma “folha pública”, como se dizia à época, voltada à defesa das ideias republicanas. 

A preponderância paulista, sustentada pela ascensão econômica em decorrência do café, durou até a Revolução de 1920. O candidato vitorioso das eleições - Júlio Prestes, que sucederia a Whashington Luís, não chegou a tomar posse. Em seu lugar, Getúlio Vargas, ascendeu ao poder por meio da força, respaldado pelos tenentes dos levantes de 1922 e 1924.

Vargas procurou ao longo do primeiro semestre de 1932 acalmar os ânimos paulistas nomeando Pedro de Toledo, um interventor paulista e civil para comandar o estado e publicando um novo código eleitoral prevendo eleições no período de um ano. As medidas no entanto não acalmaram os ânimos e o PD e o PRP, os dois partidos que rivalizavam em São Paulo uniram-se na Frente Única Paulista contra o governo provisório de Vargas. Entre suas principais demandas estava o estabelecimento de uma nova Constituição - assunto que Vargas era contra. Lideranças políticas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro também apoiavam o fim do regime discricionário de Vargas.

O movimento paulista ganhou ainda mais força em maio de 1932 com a morte por forças federais de quatro estudantes, assassinados pelo governo federal em uma manifestação em 23 de maio de 1932, cujas iniciais dos nomes - Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo - nomearam uma sociedade de resistência ao governo golpista de Vargas, o M.M.D.C. que posteriormente coordenou os esforços de guerra, no recrutamento, arrecadação de fundos e recursos para os soldados do Exército Constitucionalista.

Apesar do amplo apoio da população de São Paulo, que doou ouro para o levante armado contra Vargas, o estado de São Paulo acabou isolado, sem apoio de lideranças de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro que não aderiram à luta. Em menos de três meses São Paulo foi vencido pelo governo federal e a revolução encerrada em 1º de outubro de 1932 com a rendição de paulistas e um saldo estimado de 634 mortes.

Apesar da derrota militar, São Paulo obteve ganhos políticos. Com o fim da Revolução, houve eleições para a composição da Assembléia Constituinte, com vitória da Chapa Única Paulista, dominada por setores do PRP e em 1934 foi promulgada a nova Constituição, que durou até o golpe do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937.